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abr 20

Algumas ideias sobre o princípio feminino e linguagem simbólica

Hoje não escrevo um texto, mas compartilho algumas ideias que estão povoando meus pensamentos.

Não quero me preocupar em fazer ligações lógicas entre um parágrafo e outro. Quero apenas escrever livremente. Talvez no final, tudo faça sentido! Ou não, ainda…

Uma das principais características do princípio feminino da consciência é a intuição, porém essa característica não é valorizada pelo cientificismo, porque não há como mensurá-la, tampouco controlá-la. Mas é ouvindo a intuição que transformamos o que precisa ser trabalhado dentro de nós, como as operações que aconteciam dentro do vaso alquímico.

A imaginação é essencial para nossa vida. O corpo fala por imagens. Quando algo é racional demais, a experiência humana fica muito apequenada.

É preciso acolher e nutrir as imagens que surgem em nossas vivências, estarmos receptivos aos conteúdos psíquicos que emergem das experiências. Precisamos não ter pressa em entendê-las (desafio grande no mundo de hoje!). Heidegger tem uma frase que gosto muito: “Precisamos nos demorar nas coisas”, ou seja, ficar perto daquela experiência, deixar que ela se mostre mais, antes de colocarmos rótulos ou explicações para termos a falsa ideia de controle!

É preciso saber esperar, entrar em outro tempo, o tempo do inconsciente. O masculino pensa o tempo cronológico, o raciocínio causal-dedutivo, a explicação. O feminino anda em torno, coloca a questão no centro e começa a fazer conexões, sem a obrigação de chegar a algum lugar. Sabe porque está caminhando, fica perto do conteúdo inicial, mas deixa a compreensão surgir aos poucos – é o Kairós, o tempo qualitativo.

A falta de conexão entre cosciente e inconsciente é a fonte das desarmonias psíquicas.

O feminino é como a terra que acolhe a semente a deixar florescer, no seu tempo, no tempo possível. Então algo vem à tona, e você pode conviver com isso sem ter que entender de imediato. Esperar, conectar e compreender. Aprender o silêncio, a espera, a ação que é não ação (como no Taoísmo – deixar acontecer). Começar a trabalhar um conhecimento que é vivencial, e não intelectual.

Precisamos estabelecer a conexão do Ego com o Self. O Ego precisa ser forte porque ele está sofrendo todas as tensões que o mundo lhe apresenta. às vezes, ele não sabe por onde ir. O melhor, nesses momentos, é não fazer nada e acreditar que dentro de você há algo que se manifestará (Self). As experiências que as mulheres tem com seu corpo, de ordem hormonal, a prepara para isso.

As imagens que nos surgem, em pensamentos, em sonhos, fazem parte do mistério, da busca pela compreensão do humano. A luz da lua não nos permite enxergar com nitidez, mas nos traz a magia e o encanto; a luz do sol nos traz a clareza, a nitidez. Precisamos nos conectar com esses dois âmbitos – o da clareza e o do mistério. O que eu posso saber? O que ainda não sei nomear, mas posso sentir?

Conhecimento por Eros – o que relaciona, o que conecta, aproxima. Recebe, dá, cria relação.

O pensamento dirigido é linear, lógico, conceitual; O pensamento imaginativo expressa-se pelas imagens e tem uma linguagem poética, metafórica. Essa é a linguagem apropriada para a expressão dos símbolos.

Para Jung, o símbolo não tem significado fixo. As imagens são importantes porque elas se desdobram, diferente dos conceitos que são fechados. As imagens buscam outras imagens, e assim vai se formando uma cascata de imagens, que é a maneira de desenvolver a criatividade da psique.

Imagens provocam associações afetivas, evocam sentimentos e isso promove a valorização ética no ser humano. Imagens provocam associações sensoriais – sentir o cheiro de um lugar, frio, calor… As imagens despertam sensações estéticas – senso de beleza, equilíbrio, harmonia. Mas precisamos aprender a ler o simbólico, pois há significados que não são literais, estão ocultos.

As imagens possibilitam a conexão com o Self porque elas são sincrônicas, não obedecem o princípio causal-dedutivo. Elas obedecem o princípio do inconsciente.

Vivemos um grande paradoxo – Somos a civilização da imagem, mas são imagens vazias, sem lastro, que não tem um peso. Somos soterrados com tantas imagens sem sentido, que não reverberam nada em nós, que não produzem alimento para a alma.

Mas a imagem que tem um lastro arquetípico também precisa encontrar a acolhida do outro lado. O problema é que nos acostumamos tanto com esse vazio, que muitas vezes deixamos passar o nque realmente importa.

Três coisas revelam a atrofia da imaginação e precisam ser trabalhadas:

  • Profusão de imagens absurdas. A pessoa reproduz várias imagens, não consegue parar de pensar, a cabeça fica a mil. Dispersão, confusão, falta de foco.
  • Fixação em uma única imagem: a pessoa é incapaz de ver o assunto por outro viés, só consegue enxergar de uma perspectiva. Unilateralidade e esteriotipia do pensamento.
  • Incapacidade de imaginar qualquer coisa:  a pessoa fica presa ao concreto, àquilo que acontece, estritamente.

O mais importante é a certeza de que podemos trabalhar com essas dificuldades, a fim de superá-las – através do trabalho artístico, é possível transitar por outros terrenos, abrir novas portas de acesso ao mundo interno, descobrir ou destravar a nossa criatividade, e assim, promover saúde, em seu sentido mais amplo!

 

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