set 13

Curso novo no Espaço Cuidar: Recursos arteterapêuticos na psicoterapia infantil de base fenomenológico-existencial

Estamos com projeto novo saindo do forno! Um curso que unirá a Fenomenologia Existencial, a Arteterapia e o trabalho clínico infantil.

Roda de criança

Trabalhar com crianças em psicoterapia é, necessariamente, entrar em seu mundo e estabelecer o contato com ela a partir de sua linguagem própria, que é o lúdico, o brincar, o estar junto. Nesse sentido, é imprescindível que o profissional tenha uma gama de recursos lúdicos para apresentar à criança, pois só assim poderá compreender o seu modo de ser.

Buscamos na Arteterapia as propostas a serem oferecidas no trabalho terapêutico infantil. A Arteterapia abre um universo de possibilidades a serem construídas no caminho em busca de superações e ressignificações. São diversos os materiais utilizados, cada qual com sua especificidade e objetivo. Falaremos sobre isso no curso – o que promove o trabalho com cores, com argila, a importância da colagem, entre tantos outros recursos expressivos que serão apresentados.

Nosso olhar é o da Fenomenologia, que acolhe o que a criança nos entrega sem pré-determinações. É a criança que nos mostra o seu mundo, a partir de sua criatividade, e em uma relaçao de parceria e cumplicidade vamos ampliando o nosso horizonte de compreensão.

O curso acontecerá em um fim de semana, e está estruturado da seguinte maneira:

Iniciaremos com uma exposição teórica sobre os principais fundamentos da Fenomenologia Existencial, o trabalho com a criança, e a apresentação dos recursos arteterapêuticos que podem ser aplicados nesse contexto.

Porém, nossa proposta é que seja um curso predominantemente vivencial, pois quando o profissional propõe à criança uma atividade expressiva, é importantíssimo que ele tenha tido a vivência prévia com tal recurso. Isso faz toda a diferença!

Dessa forma, preparamos um roteiro de vivências para que os alunos experienciem as técnicas que poderão ser utilizadas com seus clientes. Esse roteiro também foi pensado de forma que o aluno faça uma jornada interna de resgate à sua criança interior, pois é cuidando dela que podemos oferecer o cuidado para a criança que está fora.

Teremos vivências para cada fase do trabalho infantil:

– O início, a acolhida e a formação de vínculo;

– A avaliação psicólogica da queixa apresentada;

– O trabalho psicoterapêutico propriamente dito;

– O momento da alta.

Além das atividades vivenciadas, será entregue uma apostila com outros recursos arteterapêuticos, complementando o conteúdo do curso.

Público Alvo: Psicólogos, psicopedagogos e estudantes dessas áreas

Data: 26 e 27 de novembro de 2016

Horário: 8h30 às 18h00

Valor: R$ 500,00 (Pagamento via PagSeguro, facilitado em até 18x) – Material de todas as vivências incluso.

Local: Espaço Cuidar – Clínica Psicológica e Centro de Estudos

Rua Paulistania, 242 – Sala 12 – Vila Madalena (próximo à estação do metrô Vila Madalena)

Profissionais:

Anna Paula R. Mariano – Psicoterapeuta Existencial, Arteterapeuta e coordenadora do Espaço Cuidar

Audrei Souza – Psicóloga, Coach, Terapeuta Floral e Arteterapeuta

Rosane Cotta Seilhe Perrote – Terapeuta Naturista e especializanda em Arteterapia

Para fazer inscrição:

Clique aqui para acessar o site do Espaço Cuidar, clique no botão “Cursos” e siga os passos que serão orientados.

Mais Informações: espacocuidar@gmail.com

jun 08

O pensamento de Heidegger e a psicoterapia

Compartilho um texto escrito por Ana Maria Lopez Calvo Feijoo, sobre a aproximação entre o pensamento heideggeriano e a psicoterapia. Tema interessante, com muitos desdobramentos. Aqui estão algumas ideias, como possibilidade de ampliação desse horizonte compreensivo.

Escutar é uma arte

Pensar a psicoterapia a partir de uma perspectiva fenomenológico-existencial consiste em um remeter-se a uma análise do existir na dimensão da analítica da existência tal como foi desenvolvida por Heidegger em “Ser e tempo”.

Heidegger permite pensar na possibilidade de trazer à psicoterapia sua filosofia quando nos Zoffikonner Seminaire refere-se à patologia como distúrbio da liberdade e da flexibilidade do homem singular e propõe que se recorra à psicoterapia para ajudar o homem a resgatar a liberdade e flexibilidade na sua relação com o mundo.

Em “Ser e tempo”, Heidegger refere-se ao homem em sua singularidade com a denominação de da-sein (pre-sença) que, como totalidade estrutural, se mostra na cotidianidade mediana, imprópria e impessoal, porém sempre com abertura para possibilidades de outras formas de expressão, quais sejam: autênticas, próprias e singulares. A pre-sença constitui-se num ente aberto às possibilidades, logo, em liberdade em seu modo de ser. Pode, então, se dar na impessoalidade, como no pessoal; pode ainda revelar-se na inautenticidade, bem como na autenticidade, na verdade, nada se estrutura como definitivo, pois é a própria abertura da pre-sença, em sentido ontológico, que abre sempre às possibilidades, tanto em direção à autenticidade como à inautenticidade. Ao paralisar-se no modo da impessoalidade e da inautenticidade, a pre-sença tende ao fechamento. Os limites de sua abertura para o mundo restringem suas possibilidades. Em fechamento, o homem esquece-se do ser e perde-se no ente.

Na duplicidade ente e ser, a pre-sença pode esquecer-se do ser e tornar-se como ente. Perdido no ente, a pre-sença vive no modo como o mundo dita que deve viver. No mundo do das man, perde-se no impessoal, no impróprio e no inautêntico. Esquece-se de sua liberdade de escolha no mundo das possibilidades e passa a viver no “É”. “É” as propriedades que o mundo lhe atribui. “É”, no conformismo da massa, mais uma “ovelha no rebanho”.

A pre-sença, no movimento do ser e ente, clama, tomada pela angústia por ser si própria, pessoal e autêntica, que implica, em última instância, em reconhecer-se como um ser-para-morte. Tal clamor ocorre, mesmo que na forma de estorvo, da inquietude, mesmo que silencioso ou disfarçado nos afazeres cotidianos. Incomoda, mas salva.

Muitas vezes, ainda esquecida de sua liberdade, a pre-sença justifica sua apreensão pelas situações exteriores: o governo, os pais, o inconsciente, enfim. Outras vezes, no entanto, o incômodo a mobiliza, e aí vai em busca da sua possibilidade mais própria do seu ser-para-a-morte.

Heidegger refere-se ao cuidado como constituindo a própria dimensão do ser da pre-sença, o pôr-se para fora: é o ek-sistere, o movimento do existir. O cuidado – como processo de constituição da pre-sença – se dá no acontecer, isto é, no tempo. Cuidar constitui-se no exercício da pre-ocupação com o acontecer.

O cuidado constitui-se no movimento do existir, na abertura do ser do ente. O fechamento do ser do ente, a escassez da existência, significa dizer que se é mais do “ente” do que do “ontos”. Uma maior fixação no “ente” resulta num fechamento, passando-se a ser isto ou aquilo. Abdica-se da condição de “ontos” fecha-se na entidade, que é expressão do “ontos”, mas que também vela. O “ontos” só tem uma maneira de se dar, que é a maneira do “ente”. Porém o “ente” obscurece o “ontos”. No movimento, o “ontos” se mostra e se esconde à maneira do “ente”. A falta de movimento caracteriza a inflexibilidade.

Logo, tem-se nas reflexões de Heidegger a liberdade e a não-liberdade, bem como na flexibilidade, movimento do existir, e a inflexibilidade, fechamento. A psicoterapia propõe-se, nesta perspectiva, a abrir caminho para que a liberdade e o movimento se deem.

O percurso psicoterapêutico vai se dar de modo que o psicoterapeuta possa assumir o lugar de mensageiro do discurso do cliente, num processo mútuo de corresponder e des-prender, tal como entendido por Heidegger em sua perspectiva ontológica. No corresponder, a fala se desprende quando escuta. No des-prender, a escuta se dá simultaneamente com o responder. Compreender-se que é deste modo que se dá o processo de “escutas e falas” do psicoterapeuta e do cliente.

A psicoterapia aqui proposta se dá no sentido de acompanhar esse acontecer “ontos” e ente, no sentido do cuidado. Trata-se de uma psicoterapia que exerça o pre-ocupar-se, com o psicoterapeuta participando do acontecer do cliente. Na compreensão, cuidando do acontecer, facilita o reconhecimento do sentido mais próprio ou impróprio. Ocupar-se do acontecer cuida. Assim, entrega-se o estar-aí às possibilidades mais próprias, ao mesmo tempo em que se entrega o homem ao mundo, constituindo-se num estar-lançado.

O mundo próprio constitui-se com suas próprias possibilidades e limites. A psicoterapia, nesta perspectiva, não pensa em termos de realidade, mas de possibilidades. O psicoterapeuta prossegue no cuidado com o cliente na abertura de caminhos, restabelecendo o movimento, como acontecer, como existir.

Trata-se aqui da psicoterapia como um tornar manifesto o que é presente. Não importam, nesta perspectiva, os resultados, embora se pense em consequências, pelo modo de lidar com o mundo em liberdade, assumindo suas próprias escolhas. O psicoterapeuta vai atuar como um facilitador, cuja produção vai consistir em deixar aparecer o que se oculta.

A psicologia clínica numa perspectiva fenomenológico existencial consiste em possibilitar um pensamento meditante, abrindo a possibilidade daquele que, em angústia, clama pelo seu poder-ser mais próprio, reconhecendo-se como ser-para-a-morte, pois encontra-se perdido no impróprio. Neste querer-ter-consciência pode descobrir-se em sua liberdade, tanto no que se refere-se à utilização das coisas, como no seu próprio fazer-se no mundo. Pode, ainda, descobrir sua serenidade no “inútil” e não se angustiar para se tornar um objeto denutilidade, para adequar-se às exigências do mundo do “das man”.

jun 05

A Pipoca

O texto a seguir é de autoria de Rubem Alves, e fala sobre transformações – tema tão importante e necessário em nossa jornada pela vida. Penso que só nos abrindo para as transformações possíveis e necessárias, poderemos encontrar nossos caminhos mais autênticos. Ficar parado no mesmo lugar pode nos trazer o conforto do conhecido, mas nos tira o prazer de descobrir o novo que amplia a nossa compreensão sobre nós mesmos!

Acho que bom mesmo é virar pipoca! Vamos ao texto:

Pipoca

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida…). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé…

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

“Morre e transforma-te!” — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para  confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”.A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira…

“Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu”.

jun 02

Laços e nós – sobre amor e intimidade nas relações humanas

Hoje compartilho com vocês um texto de Beatriz Helena Paranhos Cardella, pois me encantei com ele desde a primeira vez que o li. Uma metáfora interessante das relações humanas. Um toque poético e sutil para pensarmos em questões mais profundas.

Por um mundo com mais laços e somente os nós que sejam necessários!

Laço

Laços fazem referência a possibilidades afetivas da vida – os laços que podemos criar quando nos unimos a alguém.

Os nós, o sofrimento revelado nos conflitos relacionais.

Por serem mutantes, móveis e flexíveis, os laços podem ser desfeitos, são delicados, unem e sustentam, mas não sufocam, confundem ou aprisionam.

Já os nós, frutos de confusão, pressa, aperto, mistura, nunca sabemos onde estão suas pontas, nos provocam angústia e sofrimento, paralisam e impedem a liberdade.

Laços unem o que estava separado, criando beleza, harmonia, leveza. Laços estão para além das fitas que os compõem. Não é à toa que os usamos em presentes, nos cabelos e para guardar algo importante com delicadeza. Eles encantam e provocam surpresa.

Laços unem, valorizam, enriquecem. Não são uteis, enfeitam e traçam pureza.

Ao criarmos laços, não perdemos a nossa identidade, ao contrário, criamos uma nova forma com base no encontro com outra pessoa. Já os nós são sofrimentos que revelam laços ausentes, saudades do futuro, esperança.

Nós tratados com paciência e delicadeza podem ser desembaraçados e transformados nos laços de amanhã.

maio 22

A lição da borboleta

Um homem, certo dia, viu surgir uma pequena abertura em um casulo. Sentou-se perto do local onde o casulo se apoiava e ficou a observar o que iria acontecer, como é que a lagarta conseguiria sair por um orifício tão miúdo. Mas logo lhe pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso, como se tivesse feito todo esforço possível e agora não conseguisse mais prosseguir. Ele resolveu, então, ajuda-la: pegou uma tesoura e rompeu o restante do casulo. A borboleta pôde sair com toda a facilidade, mas seu corpo estava murcho; além disso, era pequena e tinha as asas amassadas.

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O homem continuou a observá-la porque esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se estendessem para serem capazes de suportar o corpo que iria formar a tempo. Nada aconteceu! Na verdade a borboleta passou o restante de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Nunca foi capaz de voar.

O que o homem em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura eram o modo pelo qual a natureza fazia com que o fluido do corpo daquele pequenino inseto circulasse até suas asas para que ela ficasse pronta para voar assim que se livrasse daquele invólucro.

Algumas vezes, o esforço é justamente aquilo de que precisamos em nossa vida.

(Autor desconhecido)

Esse pequeno texto me faz pensar em muitas coisas importantes na vida: como acolhemos o esforço envolvido em nosso dia-a-dia? Aceitamos? Damos o tempo necessário para que as realizações aconteçam? Ou nos lamentamos e queremos logo pular essa parte para desfrutar de nossas lindas asas e sair voando por aí?

E ao olharmos para o outro: como encontrar o limite sutil entre oferecer ajuda a alguém e aguardar confiante as respostas que brotarão a partir da experiência da própria pessoa?

Os grandes desafios que a vida nos apresenta implicam em esforço e envolvimento, para que cada passo de nossa jornada seja construído de maneira autêntica e singular!

De que forma esse texto chega até você?

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