As transformações na roda da vida

 

 

Nós, seres humanos, estamos em constante transformação. Chega um momento em que nos questionamos sobre nossas escolhas, nossos planos, nosso cotidiano. Nos damos conta de que aquilo que acreditávamos não dá mais suporte para o que vivemos, ou que aquela ideia tão cara, hoje perde o sentido. O emprego tão sonhado já não é mais visto da mesma forma, aquela pessoa tão bacana perde a graça... e nesse momento surge a angústia, sinalizando que é hora de mudar, de buscar novos caminhos ou simplesmente ressignificar os já conhecidos.

 

O homem caminha entre o familiar e o desconhecido, sempre buscando a segurança da estabilidade. Falando com outras palavras: temos a necessidade de transformar novas vivências em algo familiar, conhecido, que entre na ordem do dia-a-dia, do cotidiano. Aqui, lembro-me da música de Chico Buarque – Cotidiano: “Todo dia ela faz tudo sempre igual...”. Isso porque o conhecido nos permite ter a “ilusão de controle”: já sei como é a dinâmica no meu trabalho, já estou acostumado com essa situação, não tenho grandes surpresas, é tudo tão rotineiro!

 

Sem dúvida, a rotina é importantíssima, pois ela promove a organização de nossas tarefas, o planejamento para atingir nossos objetivos. Mas chega um momento em que algo se esvazia, o sentido não é mais encontrado ali. A vida em seu movimento constante, de nos oferecer novas possibilidades, nos desabriga daquelas situações já conhecidas, já familiares. Chega o desafio! E com ele a angústia... Chega a hora de me lançar no novo. Claro, eu posso ou não acolher esse novo, mas de qualquer forma isso gera angústia, medo! É como dar um salto no escuro, não sei onde vou cair, só sei que quero saltar.

Quem não acolhe a novidade, fica na mesmice, na zona de conforto. Isso não precisa, necessariamente, ser uma condição negativa. Há pessoas que levam a vida dessa forma e não se incomodam com isso. Tocam em frente. O problema é quando a angústia surge cheia de questionamentos e empurra a pessoa para aquele lugar inusitado. E agora? Qual o próximo passo? Vou dar conta?

 

Ousar é preciso, viver é estar lançado! É assim que conhecemos um pouco mais acerca de nós mesmos. Depois de nos lançarmos no escuro, de aceitarmos o desafio, de acolhermos a novidade, o próximo passo é tornar aquilo que nos causou tanto incomodo – justamente por ser novo – em algo conhecido, porto-seguro, lugar de tranquilidade. O desconhecido torna-se familiar e assim vamos nos movendo, construindo nossos caminhos, compondo nossa biografia.

Na clínica, as pessoas que buscam o atendimento psicológico geralmente estão nesse ponto – entre o familiar e o desconhecido, experimentando uma angústia muito grande, e o pedido frequente é: “quero que as coisas voltem a ser da mesma forma!”. A dificuldade em lidar com a realidade, aceitando o novo, é fator de adoecimento. Nunca voltamos ao ponto anterior, sempre nos deparamos com um novo horizonte, com novas experiências. E na medida em que o processo terapêutico avança, nosso paciente vai descobrindo a beleza da transformação, o dinamismo da vida, a aventura das novas escolhas, a alegria das conquistas, a leveza por deixar para trás aquilo que estava pesando! Chega-se a um ponto de maior conforto, sim, mas que sempre apontará para novos desafios!

Termino com a frase de Heráclito, pensador pré-socrático, que diz o seguinte: “O homem nunca pisa duas vezes no rio, porque na segunda vez, ele já não é o mesmo homem e nem o rio é o mesmo rio”.

Que sejamos a mudança!