Testes Psicológicos e Fenomenologia Existencial

 

 

Como os testes psicológicos são utilizados no enfoque fenomenológico-existencial?

 

Geralmente, dentro desse enfoque, eles não são utilizados. Não porque seja proibido, não é essa a questão. Simplesmente porque eles não são coerentes à fundamentação teórico-filosófica da Fenomenologia Existencial.

 

Os testes classificam, rotulam, portanto são pautados em critérios diferentes aos da Fenomenologia. Porém, dependendo da situação, se não houver como escapar aos testes, deve-se ter muito claro o tratamento dos resultados, argumentar muito bem a compreensão, que não seja fechada em um diagnóstico, mas que sejam abertas possibilidades para aquele caso. 

 

Os testes projetivos, como o HTP, por exemplo, têm seus fundamentos em conceitos psicodinâmicos. O processo de projeção é inconsciente; a partir de uma situação em que a pessoa não se sinta diretamente ameaçada, por exemplo, ao desenhar ou contar uma história, ela pode manifestar seus conteúdos inconscientes, burlando as defesas de seu aparelho psíquico. Assim, ela projeta para seu mundo exterior os conteúdos de seu mundo interior.

 

Essa visão diverge totalmente da compreensão fenomenológico-existencial, que tem por premissa que “a existência precede a essência”. Portanto, o homem não está sujeito às leis de causa e efeito que marcam as ciências naturais, cindido em mundo interno e externo, mas compreendido a partir de sua historicidade, sempre entendido como ser-no-mundo.

 

Dessa forma, fica clara a incompatibilidade entre os testes psicológicos e a abordagem fenomenológico-existencial. Contudo, se não houver a possibilidade de prescindir dos testes, devido a contextos institucionais, por exemplo, o psicólogo que trabalhe na abordagem fenomenológico-existencial deve ter um cuidado muito grande ao fazer uso desse material, principalmente no momento da avaliação dos resultados. Nesses casos, o uso dos testes só será justificado se não for compreendido a partir de um enfoque teórico pré-existente. É preciso que se respeite a singularidade de cada caso e que se busque compreender o fenômeno pelo próprio fenômeno, ou seja, por aquilo que ele mostra e não por um manual de interpretação de um organismo mecanicamente determinado.