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fev 06

A Matriz (Texto 6)

Vamos continuar essa série de textos sobre alquimia e processo de individuação. Estamos em nosso quinto texto. Quem não leu os anteriores, os links estão abaixo:
Iremos agora falar sobre o que os alquimistas consideravam a matriz de seu trabalho e fazer a correlação dessa ideia com a Psicologia Analítica.
A matriz do trabalho alquímico é justamente a natureza, enquanto um princípio feminino. Jung nos diz que o homem se afastou da natureza e dos próprios instintos ao longo do tempo, e por isso é tão importante e urgente recuperar esse contato.E na Psicologia Analítica podemos relacionar a natureza ao inconsciente coletivo, que é o âmbito em que brota nossa consciência.
Na história da Filosofia Ocidental a oposição entre matéria e espírito se faz presente de forma marcante, fato que favorece esse distanciamento da matriz, a qual é vista como um princípio arquetípico que gera, nutre, acolhe e coloca a pessoa em contato com a força do viver.
Esse arquétipo é antiquíssimo e todos os seres vivos participam dessa matriz.
Segundo Jung, quando falta conexão com a matriz arquetípica, ocorre uma falha psíquica. Como exemplo podemos citar pessoas que são vítimas de severas depressões, e chegam a morrer.
Abaixo, uma imagem da representação do cosmo por um alquimista famoso, Robert Fludd. Nessa representação temos os círculos externos que remetem ao céu – o mundo celestial, do espírito. Ao centro, temos o macaco representando nosso lado instintivo e ligando esses dois âmbitos, a figura feminina que simboliza a natureza, a mãe de todas as coisas e a alma do universo.
A seguir, vejam esse documento alquímico, repleto de símbolos que buscam compreender a complexidade do universo – e poderíamos dizer, a complexidade de nosso incosciente! No topo, o corpo de uma mulher, Sophia, Sabedoria. Para Jung, tanto a matéria quanto o espírito não podem ser comprovados pela ciência. A matéria ainda é um mistério. O homem da antiguidade sabia disso e não se incomodava, pois atribuia a essa vivência contornos sagrados. Porém, como já foi dito, o homem moderno perdeu essa conexão, mas o mistério continua. Percebemos que o homem tem sede dos dois lados: ele quer entender a objetividade, mas também precisa do mistério, e o desafio é equilibrar esses dois aspectos. Muitas questões que as pessoas levam para o consultório são decorrentes dessa cisão.
Na próxima imagem, vemos a representação da natureza linda, formosa, caminhando com firmeza, ainda que de forma delicada, e o alquimista a seguindo, caquético, de bengala. “Deixe que a natureza seja seu guia”. Precisamos de uma atitude de colaboração, amizade e reconhecimento de ambas as partes.
Transpondo isso para o contexto terapêutico, podemos pensar em nossos sonhos, naquilo que almejamos. Quando eles brotam de um desejo verdadeiro, precisamos nos deixar guiar por essa natureza (conexão com o sagrado) e assim como os alquimistas, transformar o que surge na psique, a partir dos processos terapêuticos: pela palavra, pela arte, através de relaxamentos. Fazer com que o inconsciente relaxe e apareça uma nova compreensão. Esses processos nos ajudam na construção de sentidos para o que vivemos. Devemos acreditar que as respostas estão dentro de nós, caso contrário nada adianta o gasto de energia na busca de uma “cura”.
Infelizmente, muitas pessoas perderam essa confiança e não acreditam mais. Temos que nos propor, então a natureza se propõe também. Esse é um diálogo que precisa ser mantido.
A imagem a seguir, temos um detalhe do pórtico principal da Catedral de Notre Dame, em Paris. Podemos observar a imagem de uma pessoa que tem a cabeça no céu (contato com as ideias superiores) e os pés plantados no chão (aspecto da realidade mais concreta), fazendo a conexão entre céu e terra. A escada se apresenta como a ordem a ser seguida. O livro, a busca pelo conhecimento, tão almejado. O cedro simboliza o saber real, e é símbolo de poder.
Podemos fazer algumas reflexões sobre essa imagem tão simbólica: todo conhecimento nos confere poder e deve ser bem usado. Os alquimistas alertavam que as trasnformações não acontecima apenas nos processos externos, mas que deveriam ter uma correspondência com os processos internos, para que houvesse um desenvolvimento, acima de tudo, ético.
E para finalizar o texto, a última imagem na qual podemos ver o alquimista mediando a natureza (anjo) e a tecnologia (o forno dentro da construção).
Sabemos que o homem passa por dois nascimentos: o biológico e o nascimento da consciência. Fazer com que a luz da consciência brilhe, se expanda e seja usada de forma positiva é a Opus Magnum de uma vida. Recebemos potências psíquicas da natureza (arquétipos), mas o que fazemos com isso?
Perdemos a confiança nas nossas percepções, na nossa intuição. Tudo tem que ser encaixado e categorizado. Temos um script social a ser seguido e quanto mais buscamos andar nesse trilho, mais distantes estamos da nossa essência.
Como construir essa ponte entre o visível e o invisível? Pois precisamos dos dois, em um equilíbrio perfeito…
Algumas dicas, apenas… há tantos caminhos quanto sua imaginação permitir!
Converse com alguém mais velho, pergunte sobre coisas da vida e escute sua sabedoria;
Peça inspiração para natureza, se conecte com ela, aprecie um lindo pôr do sol ou apenas veja as folhas de uma árvore dançando ao vento;
Dance ao vento, ouça música que te toque a alma profundamente;
Leia poesia;
Passeie por um livro de Arte e visite museus;
Brinque com seu bichinho de estimação;
Faça a comida que você mais gosta e compartilhe com alguém querido;
Resgate rituais, eles tem o poder de acessar nossa força interior;
Conviva mais com o outro, estamos carentes de reuniões de alma;
E por fim, perceba a beleza no cotidiano, pois nele está incluído um poder imenso de sacralidade que não nos damos conta!
Quando esquecemos de todas essas coisas, a vida vai ficando vazia.
Os alquimistas queriam fazer justamente essa reconexão: transformar a matéria simples (cotidiano) em ouro, desde que se veja o ouro presente nessa matéria simples!
Para você pensar:
Nós somos seres criativos, por natureza. E o que fazemos com essa potência que temos?
A criatividade que existe em nós busca sempre um caminho de expressão. De que forma estamos dispostos a abrir esse caminho?

1 comentário

  1. Adell

    Thank you for the great article

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