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fev 06

A matriz de todo processo (Texto 5)

Nos posts anteriores traçamos a relação entre a Alquimia e o processo psicoterapêutico (clique aqui para ler o post), apresentamos as características da Opus Magnum (clique aqui), a matéria prima (clique aqui) e falamos sobre o vaso alquímico (clique aqui), local onde os alquimistas realizavam a transmutação da matéria, que relacionamos ao ambiente terapêutico ou ao nosso próprio ser.
Dando continuidade a esta série, gostaria de falar um pouco sobre uma questão muito importante: o homem está muito afastado da natureza e dos próprios instintos, e por isso Jung percebeu a relevância da Alquimia para recuperar esse contato. Para a Alquimia, a natureza é a matriz da Opus Magnum, é o princípio feminino. Esse princípio, para Jung, corresponde ao incosciente coletivo, onde brota a nossa cosciência.
Ao percorrermos a História da Filosofia, muito facilmente podemos encontrar a oposição entre matéria e espírito. Mas como podemos explicar a morte sem explicação de bebes saudáveis, ou o fato de um membro do casal morrer e logo em seguida o outro também morre? Para Jung, esses fatos acontecem porque não há separação entre matéria e espírito, o que existe é uma falta de conexão com a matriz, e isso resulta em uma falha psíquica.
A matriz é um princípio arquetípico que gera, nutre, acolhe e coloca o homem em contato com a força do viver. Esse arquétipo é muito antigo e todos os seres vivos participam dele.
Jung chama nossa atenção para esse esquecimento: o homem moderno se afastou dessa matriz, cindiu a relação entre a matéria e o espírito, relegou o corpo à segundo plano. Não estamos falando do corpo perfeito que é buscado nas academias e através de fórmulas mágicas, tão em pauta em nossa sociedade. Estamos falando do corpo que é nossa morada, o corpo que habitamos e que é marcado por nossas escolhas. O corpo que é natureza, e a natureza é a mãe de todas as coisas, e a alma do universo.
Jung nos diz que tanto a matéria, quanto o espírito, não podem ser comprovados pela ciência… a matéria ainda é um mistério! O homem da antiguidade sabia disso e não se incomodava. A matéria/corpo tinha uma conotação sagrada. Mas o homem moderno quer dominar o mistério e definir a matéria a partir de explicações objetivas e comprovadas cientificamente. Acaba-se com o mistério. Cisão entre matéria e mistério.
Contudo, o homem precisa desses dois âmbitos – o conhecido e o mistério a ser conhecido – e poder equilibrar-se entre eles é o que torna a vida interessante. Mas a modernidade cindiu essa dupla e propôs explicações razoáveis para tudo. No consultório psicológico, muitas questões que os pacientes trazem são decorrentes dessa cisão, e o que eles buscam é a responsta pronta, organizadasm, afinal… tudo tem uma explicação!
Mas sabemos que não é bem assim, que nem tudo tem uma explicação. E ficar com essa ideia é bem angustiante. Então, baseada no pensamento de Jung, proponho um caminho possível: uma reaproximação com a natureza, com a nossa matriz. E a matriz se apresenta em nossos sonhos e fantasias com uma veracidade que deve ser considerada. Precisamos fazer como os alquimistas e transformar o conteúdo de nossa psique, a partir dos processos clínicos, em uma compreensão mais ampla acerca de nós mesmos. Isso promove a aproximação de quem somos, ultrapassa a cisão matéria/espírito, amplia qualquer tentativa de explicação teórica, pois abre novas possibilidades de sentido.
É preciso acreditar que as respostas estão dentro de si mesmo, caso contrário, não compensaria o gasto de energia buscando a cura. Infelizmente, muitas pessoas perderam essa confiança…
Vejam que interessante a figura abaixo, de M. Maier. Nela temos uma figura feminina, toda formosa e confiante, representando a natureza e logo atrás a figura de um alquimista debilitado, que usa uma bengala e uma lanterna e segue a natureza, que lhe abre caminhos.
Nessa figura podemos encontrar o caminho proposto acima: um contato maior com a nossa natureza, um diálogo mais íntimo e verdadeiro com essa força que habita dentro de nós!
De que forma? Eis algumas dicas:
Conversar com um antepassado, rezar e pedir inspiração para a natureza, ouvir uma música que lhe toque profundamente, fazer a leitura de uma poesia ou um romance, folhear um livro de arte para apenas ver suas imagens. Estar presente, no aqui e agora, pois no cotidiano está incluído um poder imenso de sacralidade.
Vamos nos aproximar dessa potência criativa, abrir espaço para novos sentidos, descobrir nossos recursos de transformação e construir um caminho mais autêntico, que represente nosso viver muito mais do que teorias prontas. Que essa natureza criativa seja nosso guia!

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